terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O que são os xiitas?

Por Diogo Bercito
Se você é uma dessas pessoas que franzem o cenho e olham para os lados quando alguém comenta a divisão sectária do Oriente Médio, perguntando-se “mas o que são xiitas e sunitas mesmo?“, aproveite que acabo de voltar de uma viagem ao Iraque (leia mais no Orientalíssimo, clicando aqui). Cercado por bandeirolas da peregrinação xiita rumo a Karbala e de imagens de Hussein, neto do profeta Maomé, me senti na obrigação de responder à seguinte pergunta:
O que são os xiitas?
São muçulmanos. A resposta parece atravessada, mas na verdade é um detalhe que às vezes foge de vista quando a discussão esquenta. Falamos hoje em divisões e em violência sectária, mas os xiitas e os sunitas são ambos muçulmanos e seguem a mesma religião –acreditando na base do islã de que só existe um deus e Maomé é seu profeta. A diferença é histórica e política, para além das divergências religiosas. Como resumiu a mim um jovem iraquiano durante um café: “xiitas rezam com os braços para baixo, sunitas rezam com os braços cruzados”.
No que eles são diferentes, historicamente?
Na escolha de quem daria continuidade à liderança do profeta Maomé, morto em 632. Maomé havia revolucionado a península Arábica com o livro sagrado que recitara (o Corão), superando as relações tribais pela ideia de uma comunidade religiosa, chamada “umma” em árabe. Mas, quando morreu, Maomé não deixou um herdeiro. Parte dos muçulmanos preferiu que o líder da comunidade fosse escolhido entre seus seguidores (esses são os chamados sunitas). Os xiitas são aqueles que preferiram um líder que tivesse laços de sangue com Maomé (especificamente Ali, seu primo e genro). Os sunitas venceram a disputa e elegeram Abu Bakr, primeiro califa do islã.

Mas é só um detalhe?
Não. É uma perspectiva. Sunitas apostavam, à época, na ideia de um líder por consenso. Xiitas preferiam uma perpetuação por linhagem de sangue. Essa ideia acompanhou os grupos nas décadas seguintes à morte de Maomé, com violentas disputas pelo poder culminando na morte tanto de Ali quanto de seus filhos, Hussein e Hassan, celebrados como mártires entre os xiitas.
Desenho de Hussein, neto do profeta Maomé, em barreira de concreto de Bagdá. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Desenho de Hussein, neto do profeta Maomé, em barreira de concreto de Bagdá. Crédito Diogo Bercito/Folhapress
Fazendo uma pausa: o que quer dizer “sunita” e “xiita”, em árabe?
Sunita vem da “sunna”, que é o nome dado às práticas e aos ensinamentos de Maomé. Xiita vem de “shiat Ali”, ou “partidários de Ali”.
Eles vão brigar para sempre?
Não. A ideia de uma tensão sectária constante é recente. Conversei recentemente com anciões iraquianos, por exemplo, que me narravam as décadas passadas no país. “Ninguém sabia quem era xiita e quem era sunita. Não usávamos esses nomes”, me disse um senhor. O assunto foi mais urgente, durante a história, quando foi usado por governos para se perpetuar e alienar inimigos, a exemplo do que fizeram o ex-ditador Saddam Hussein e o ex-premiê Nuri al-Maliki.

Que países são xiitas?
Há grandes concentrações de xiitas no Líbano, no Irã, no Iraque, no Bahrain, no norte do Iêmen e em regiões de Afeganistão e Paquistão, entre outros. Não à toa há sólidas relações entre a milícia libanesa Hizbullah, o Iraque e o Irã, para desgosto dos EUA, que apostam na liderança sunita da Arábia Saudita. Mas xiitas são a minoria no islã –por volta de 10% ou 20% do total, a depender das fontes.
A mancha amarela, no mapa, marca regiões xiitas. Crédito
A mancha amarela, no mapa, marca regiões xiitas. Crédito “The Shia Revival” (Vali Nasr)
E a Síria?
Os xiitas estão na região oeste. Ali predomina o ramo alauita, que é uma vertente do xiismo. Esse grupo é representado pelo atual ditador sírio, Bashar al-Assad, que enfrenta hoje uma violenta insurgência contra o seu regime. Mas, apesar do espectro da disputa sectária, a guerra na Síria não é exatamente “sunitas versus xiitas”. Há, por exemplo, sunitas moderados e sunitas radicais, como o Estado Islâmico.

As pessoas dizem, no Brasil, que fulano é “radical xiita”. Todo xiita é radical?
Não. A expressão não faz sentido. O Estado Islâmico, por exemplo, é sunita. Existem radicais xiitas, sunitas, cristãos, ateus e o que mais precisar. Ou seja: existem radicais. Ponto.
http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2014/12/08/o-que-sao-os-xiitas/

"Como você lida com a religião em casa?", Disney Babble, os pais podem e devem conversar com elas sobre isso!


As crianças tem uma compreensão própria acerca de tudo que lhes cerca, inclusive acerca de Deus...
E, como pudemos ver na matéria "Como você lida com a religião em casa?", Disney Babble, os pais podem e devem conversar com elas sobre isso!

https://www.facebook.com/educacaoereligiao?fref=ts

Daniel Dennett em seu "Quebrando o encanto, a religião como fenômeno natural:


Educação e Religião

Penso que esta seja uma boa razão para estudar religião/religiões à sério, na escola e em todas as áreas do conhecimento acadêmico, como propõe Daniel Dennett em seu "Quebrando o encanto, a religião como fenômeno natural:

Quadrinhos abordam diferentes religiões e atingem públicos variados

Quadrinhos
A Iluminação de Buda ou a redação do Talmude hebreu ganham forma nas páginas das HQs
Por Marcelo Rafael
 
No início, era o verbo. Do verbo, fez-se a História. A História se fixou em literatura. Da literatura, surgiram os quadrinhos. Destes, veio uma nova forma de contar relatos religiosos dos mais diferentes cantos do planeta, desde os sutras budistas, passando pelos versos da Bíblia e pelas leis do Talmude até as suras do Alcorão.

Vários quadrinhos já apresentaram o sagrado para leigos sem a intenção de catequizar. O mais recente deles é Habibi, do premiado Craig Thompson, que chegou ao Brasil pela Cia. das Letras na última Bienal do Livro de São Paulo.

Habibi não é necessariamente religioso: narra a difícil jornada de vida de dois órfãos, Dodola e Zam, em um país fictício, entremeando histórias das Mil e Uma Noites. Mas algumas passagens das suras – os capítulos do Alcorão – também são ilustradas por Thompson no decorrer da narrativa.

A questão é delicada, uma vez que, segundo algumas interpretações das leis islâmicas referentes à idolatria, não é permitida a representação de pessoas ou animais em obras que falam sobre o sagrado.

A crise mais conhecida em função disso veio da publicação de uma caricatura do profeta Maomé (ou Muhammad) em um jornal dinamarquês em 2005. Protestos de comunidades islâmicas ao redor do mundo provocaram a pior crise diplomática da Dinamarca desde a II Guerra Mundial, segundo o então primeiro-ministro daquele país. O redator-chefe do jornal chegou a receber ameaças de morte.

Sidney Gusman, editor do site Universo HQ e responsável pelo planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções, não conhece os preceitos do Islã, mas considera que seja possível fazer uma obra em quadrinhos sobre a religião. “Desde que seja respeitoso. Claro, não foi o caso da caricatura”, explica.

Até a Turma da Mônica já entrou no tema, com Chico Bento no papel do Diabo e Cebolinha como Jesus Cristo, em Minha Primeira Bíblia.

Dadas as devidas considerações, qualquer crença pode ser abordada nos quadrinhos, segundo ele. “O mais legal é que a maioria (dos artistas) consegue fazer versões que têm sido respeitosas, que conseguem não desagradar o pessoal que acha que esse tema é intocável”, afirma Sidney.

O problema de contar a história de Maomé em HQ sem poder desenhá-lo foi facilmente contornado por Larry Gonick em A História do Mundo em Quadrinhos. Apesar de não ser religioso, o livro trata do nascimento da religião árabe e da expansão do mundo muçulmano pela Ásia, África e Europa. Atendo-se aos preceitos islâmicos, Gonick, com muito bom humor, simplesmente considerou que o profeta estaria sempre “fora do quadrinho”, aparecendo apenas seu balão de fala em todas as suas passagens.

INTERPRETAÇÕES PESSOAIS

Poderia soar estranho ao leitor leigo apresentar relatos bíblicos como História, mas é o que ocorre em A História dos Judeus, da Via Lettera. A proposta do norte-americano Stan Mack é ousada ao narrar um povo cuja cultura até hoje é indissociável da religião. A HQ se inicia com mitologia religiosa, evolui para História em si e chega a temas políticos atuais, como a questão da Palestina.

Mas alguns eventos do povo judeu ficaram de fora. Mack conta, entre muitos outros acontecimentos, a chegada dos judeus às Américas, mas esquece de mencionar que a primeira sinagoga do continente foi fundada em Pernambuco, sob domínio holandês. Outra passagem omitida é sobre os judeus etíopes, convertidos pela Rainha de Sabá, como bem explica Gonick em seu A História do Mundo.

É o olhar próprio de cada autor que decide os rumos das mais antigas e recontadas histórias. A Bíblia também tem suas versões. Em 2008, a JBC lançou o inusitado A Bíblia em Mangá, em dois volumes, O Velho e O Novo Testamento.

Imaginar Jesus Cristo ou Moisés com os olhões típicos do estilo japonês pode parecer difícil, mas foi justamente essa a proposta do britânico Siku, que considerou essa forma de narrativa mais apropriada para apresentar o que considerou uma narrativa cheia de ação e emoção.

Mais recentemente, o brasileiro Laudo Ferreira também se propôs a contar a vida de Jesus Cristo de uma maneira bastante particular. Apesar de não se dizer vinculado a alguma religião, Laudo se considera muito espiritualizado.

No final dos anos 90, ele assistiu a uma série de documentários sobre Jesus que lhe acendeu a centelha de escrever sobre esse assunto. Pesquisou os Evangelhos e os textos apócrifos, além de muitos outros livros. “Devo ter lido uns 200”, conta.

Passou um ano estudando traço, rosto de personagens. “Teve uma época que eu estava até meio louco.”, brinca.

O resultado foi Yeshuah - Assim em Cima Assim Embaixo e Yeshuah - O Círculo Interno, o Círculo Externo que contam o nascimento e os primeiros anos de vida pública de Cristo de forma linear e bem mais próxima do humano. O terceiro volume, com a Paixão e morte de Cristo, deve sair em 2013.
 
Página do 3° volume de Yeshuah
“O Yeshuah é absolutamente brilhante e deu uma humanização a Cristo que realmente empolga”, comenta Sidney.

Laudo conta que, em um evento de lançamento em São Paulo, alguns evangélicos fizeram questão de declarar seu credo e dizer que apreciaram a obra. “Em contrapartida, tem gente que leu o segundo volume e torceu o nariz”, completa.

Sidney acha importante que essas HQs falem a todos. “É bacana que pessoas que não leem quadrinhos e que são religiosas leem essas obras, até para ver se estão sendo ‘maculadas’. E não teve reclamações”, afirma.

Mesmo pessoas sem religião se interessam pelo tema. É o caso de Omelino José de Souza Júnior, ateu de pais católicos, que cresceu em um ambiente religioso e chegou a frequentar a catequese. Por indicação do irmão budista, ele leu A História de Buda em Quadrinhos, lançado este ano pela editora Satry.

Diferentemente da odisseia em doze volumes desenhada por Osamu Tezuka e publicada no Brasil pela Conrad, a edição da Satry é mais concisa e se atém à vida e aos ensinamentos do príncipe Siddharta Gautama, mais conhecido como Buda Shakyamuni.

Omelino conta que, hoje em dia, sente vontade de conhecer outras religiões, e este é seu primeiro contato com outros credos além do cristão. “O fato de ser quadrinho é uma abordagem diferente. E acho que atrai um público maior. Como introdução a este tipo de assunto, é uma abordagem bem leve de se ler”, conclui.

De uma maneira ou de outra, os quadrinhos apenas demonstram que existem inúmeras maneiras de contar os mesmos eventos que mudaram o mundo e são repetidos por séculos a fio, de geração para geração, seja por religiosos, fundamentalistas ou até mesmo leigos e ateus.